Entrevista - Autora Elizabeth Blackwell fala sobre Enquanto Bela Dormia

Entrevista Elizabeth Blackwell Enquanto Bela Dormia Editora Arqueiro
Oi gente, conforme prometido ontem, hoje trago para vocês a entrevista com a Elizabeth Blackwell, autora de Enquanto Bela Dormia, publicado no Brasil pela Editora Arqueiro.

Vocês já perceberam o meu amor pelo livro, certo? Então pensem no quanto eu surtei quando a autora nos respondeu, super solícita e querida e topou nos conceder essa entrevista. Eu e a Mi pulávamos de alegria! E sim, eu sei que a entrevista tá enorme, mas eu e a Mi tínhamos muito para perguntar para a autora.

As perguntas foram elaboradas por nós duas e a entrevista foi traduzida pela Dany. Valeu Dany <3

Para quem está caindo de paraquedas nesse post, sugiro que leiam o #Esquenta!, a resenha, participem da promoção para concorrerem a um exemplar de Enquanto Bela Dormia e depois voltem aqui ;) 

1) Enquanto Bela Dormia é o seu primeiro livro publicado no Brasil. Gostaria de se apresentar ao público brasileiro? Fale-nos um pouco sobre você.

Eu sou americana, mas meu pai trabalha para o serviço diplomático dos Estados Unidos, então, quando eu era mais nova, nós também moramos no Kenya e na Itália. Quando eu estava cursando a Universidade dos Estados Unidos, meu pai trabalhou na Embaixada Americana em Brasília por dois anos e eu tive a sorte de poder visitá-los durante as minhas férias. Em minha carreira trabalhei como editora e jornalista, trabalhando em editoras de livros e revistas, em sua maioria em Chicago, onde ainda moro. Quando tive meu primeiro filho, 12 anos atrás, eu decidi ficar em casa e trabalhar meio turno como escritora freelancer para revistas. Eu sempre quis escrever um livro de ficção, então comecei a escrever Enquanto Bela Dormia à noite, depois que minha filha ia dormir.

2) Nós já tivemos a oportunidade de ler o seu livro e ele é simplesmente genial! Poderia, por favor, nos contar como surgiu a ideia de uma releitura para “A Bela Adormecida” e quais foram as dificuldades que você encontrou no meio do caminho para escrevê-la?

Quando a minha filha era pequena o seu filme preferido era A Bela Adormecida, da Disney. Ela sempre queria assisti-lo de novo e de novo. Enquanto eu assistia, uma ideia me ocorreu: “E se a história desse filme fosse um evento histórico verdadeiro? Eu poderia descrever estes momentos de forma realística, sem magia?” Foi aí que tudo começou. Entretanto, não foi fácil publicá-lo. Eu levei cerca de dois anos para escrever o livro, e então mais dois anos para encontrar uma editora que estivesse interessada. Alguns editores queriam que ele contivesse mais fantasia, outros que fosse uma história mais séria (uma história em um país verdadeiro usando reis e rainhas de verdade). Meu livro está em algum lugar do meio, entre fantasia e história, nesse sentido, isso dificultou que muitas pessoas o entendessem. Por sorte, minha batalha teve um final feliz, e o livro foi publicado nos EUA em 2014. 

3) Qual era a sua sensação ao ouvir os contos de fadas quando criança? Eles sempre intrigaram você?

Sim! Eu lembro de minha mãe os lendo para mim quando era pequena e então eu tinha os meus próprios livros de contos de fadas quando fiquei mais velha. Existem muitas razões pelas quais pessoas ao redor do mundo continuam a ler e gostar de contos de fadas: elas são histórias empolgantes, com personagens femininas fortes e interessantes, e vilões e antagonistas igualmente instigantes. Eu adoro histórias dramáticas!

4) Em sua opinião, qual outro conto tem potencial para uma boa releitura?

Eu acredito que se poderia contar uma boa história de qualquer conto de fadas porque existem muitas formas como elas poderiam ser recontadas. Por exemplo, o filme Malévola, com a Angelina Jolie, foi lançado quase ao mesmo tempo em que o meu livro. E eu nem sabia nada sobre o longa enquanto escrevia. Foi uma coincidência bastante estranha. Mas eu adorei a obra cinematográfica, e foi muito peculiar para eu ver a mesma história contada de uma forma diferente.

5) Por que você decidiu recontar essa história através de um novo ponto de vista que não o da princesa Rosa? Poderia nos falar um pouco sobre Elise, uma personagem que tanto amamos e com quem sofremos juntas?

Quando eu comecei a escrever pela primeira vez, eu ia contar a história pelo ponto de vista da Rosa. Então, me dei conta de que seria um livro muito curto, porque ela não fazia muito! Ela nasce, tem uma infância feliz, dorme, e quando acorda a história acaba. Eu estava bem mais interessada em explorar o mundo ao redor de Rosa: o castelo, seus pais, o país onde ela vive. Para fazer isso, eu precisava de um personagem do lado de fora do castelo, que pudesse representar o “mundo real”. Elise é uma personagem que quer ter uma vida melhor, e ela é incrivelmente leal. Eu queria que ela tivesse uma jornada extremamente pobre a um trabalho importante no castelo, para também mostrar que a vida não é perfeita para as pessoas em famílias reais.

6) Você conseguiu criar explicações consistentes e realistas para os elementos mais famosos do conto, a exemplo do que levou a Rosa a cair em sono profundo. Como se deu a busca por essas justificativas? E o que a fez não se utilizar de elementos mágicos, como a Disney, para criar a sua história?

Como eu disse em outra resposta, eu queria que essa história parecesse real. Desde o princípio eu decidi não usar magia. Então, eu tive que criar outras explicações para como as coisas aconteceram. Por exemplo: Se a Rosa não estava sob efeito de um feitiço mágico, porque ela estava adormecida? Antes mesmo de começar o livro eu sabia que teria de pensar em uma resposta convincente. (Não vou falar sobre como expliquei o sono de Rosa para o caso de quem esteja lendo isso ainda não tenha lido o livro. Quero que seja surpresa!)

7) Você criou uma história com detalhes minuciosos sobre a rotina de um Castelo e o estilo de vida medieval. Como foi a pesquisa para compor essa realidade? O que você mais gostou de descrever?

Eu estudei história na Universidade e eu sempre amei ler livros que se passam no passado. Então, escrever Enquanto Bela Dormia foi uma forma de dar continuidade a esse interesse. Eu não precisei pesquisar demais porque não escrevi sobre um país verdadeiro e eu nunca digo uma data exata no texto. Na minha cabeça, eu imaginei a cidade e o castelo similares a Europa dos anos 1400 a 1500. As roupas que descrevo, as casas, a comida, são típicos daqueles tempos, e eu li muitos livros nesta ambientação. Existe um livro chamado “Os Pilares da Terra”, de Ken Follet, que eu espero que vocês também tenham no Brasil. Ele se passa na Inglaterra medieval e é um dos meus livros favoritos ever!

8) O Castelo em seu livro é bem diferente da fortaleza encantada que vemos nos contos tradicionais. É um local de bravura e lealdade, mas também de intrigas, segredos e muitos sacrifícios em prol da coroa. O que te motivou a retratar ângulos tão diferentes do poder?

Por ter estudado história, eu sabia que muitas guerras haviam começado por famílias brigando por poder. Isso era muito comum quando não havia nenhum filho para assumir após a morte do Rei. Quando eu estava planejando o livro, eu pensei muito sobre a posição política de Rosa e seu pai. O Rei estava feliz por ter uma filha, mas isso foi em um tempo onde filhas não podiam herdar os títulos dos pais.

9) Um dos sentimentos mais explorados na trama foi o medo, que, na verdade, foi o grande vilão da história. Como se deu essa escolha?

É bem interessante dizer isso, porque eu nunca pensei no medo como um vilão. Mas você está certa – isso afeta todos os personagens de formas diferentes. Na sociedade moderna, com frequência esquecemos quão protegidos nós somos: se ficamos doentes, podemos ir ao hospital. Se você não gosta de seu trabalho, você pode se demitir e arrumar outro. Centenas de anos atrás, havia mais o que temer, especialmente para as mulheres. Com um erro ou falta de sorte, sua vida podia ser arruinada. 

10) Em seu livro, a Rainha Leonore é descrita como uma mulher que vive atormentada pelo medo do que pode acontecer com a família. O que te levou a imaginá-la tão perturbada? Se você pudesse ser uma das damas de companhia, quais conselhos daria a ela?

Parece que uma Rainha tem uma vida glamourosa, fácil, mas também pode ser extremamente difícil. Ela nunca está sozinha, sempre há pessoas a observando e ela nunca pode ter certeza de quem são seus amigos. O papel mais importante de uma Rainha é ter filhos, então pense quão terrível isso era para uma Rainha que não podia fazer isso! Com Lenore, eu quis mostrar a pressão de seu cargo. Eu não acho que haja algo que seus acompanhantes/servos podiam dizer para tirar a pressão, razão pela qual eu lamento muito por ela. 

11) A sua versão da vilã Malévola é bastante astuta e manipuladora. Qual o maior poder da Millicent?

Obrigada! Eu trabalhei com muito afinco para criar uma personagem que fizesse coisas ruins mas não fosse o tipo de vilão que você encontra em quadrinhos ou livros infantis. Eu queria que os leitores acreditassem que ela fosse uma pessoa real. Millicent é uma pessoa que tem poder psicológico sobre as pessoas por ser muito forte e confiante. Ela pode fazer as pessoas duvidarem de seus próprios sentimentos e crenças porque ela é muito segura de si. Todos nós já conhecemos pessoas assim, não conhecemos?

12) O foco da sua história não é propriamente o amor romântico, entre um homem e uma mulher, mas sim, o amor da família e os sacrifícios que fazemos por aqueles que amamos. Que lição você quis nos passar com isso?

Nós vemos tantos livros sobre homens e mulheres se apaixonando, mas com frequência não celebramos o amor que temos por nossas famílias e melhores amigos. É uma força incrivelmente poderosa e eu queria tornar esse amor uma parte importante da história. 

13) Não podemos resistir a uma pergunta: Mayren apoiaria a decisão de Elise trabalhar no castelo? O que ela diria se tivesse um minuto a mais com a filha?

Que pergunta interessante! Eu acho que Mayren não apoiaria a decisão de Elise. Ela ensinou Elise a costurar e ler porque queria que a filha tivesse uma vida melhor, mas eu acho que ela planejou que Elise trabalhasse para uma família rica na cidade, ou talvez trabalhasse em uma loja. Mayren achava que sua própria vida havia sido arruinada no castelo e ela não queria que o mesmo acontecesse com Elise. 

14) “Enquanto Bela Dormia” nos chama a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em uma época de costumes que não lhes eram favoráveis. Como foi construir personagens femininas que reagiam de maneiras tão diferentes às imposições daquele tempo?

Obrigada por dizer isso, porque a situação das mulheres naquele tempo é uma questão bastante importante para mim. A mãe de Elise é forçada a entrar em um casamento terrível e não pode se divorciar do marido que bate nela. Elise tem pouquíssimas opções de onde trabalhar e num certo momento precisa escolher entre se casar e manter o emprego, ela não pode fazer as duas coisas. Ros não pode escolher com quem se casará, ela precisa se casar com o homem que representar a melhor aliança política para sua família. Todos esses são exemplos de como a vida das mulheres era extremamente limitada comparada a hoje. 

15) Você conseguiu retratar com maestria o amor do Rei e Rainha pela princesa tão desejada. Se eles estivessem nessa conversa conosco, o que acha que diriam do desfecho que você escolheu para Rosa? Acha que aprovariam?

Espero que eles aprovem! Eu sei que acima de tudo eles iam querer que sua filha estivesse segura e feliz. Apesar de haver muitas tragédias em meu livro, eu também quis que certos personagens tivessem um final feliz, mesmo que não seja o mesmo final de um conto de fadas. 

16) Consegue escolher um trecho de Enquanto Bela Dormia que define a história do seu livro?

Eu gosto do primeiro parágrafo do capítulo 1: “Um destino revelado”, quando Elise diz ser o tipo de pessoa que não aparece comumente em histórias. Acho que isso da uma boa ideia aos leitores sobre sua personagem e o estilo do livro. Eu não vou citar aqui porque acho que seria mais fácil você copiar a tradução em português do seu livro. 

"Não sou o tipo de pessoa sobre quem se contam histórias. Os que têm origem humilde sofrem suas mágoas e comemoram seus triunfos sem serem notados pelos bardos e não deixam vestígios nas fábulas de sua época. Criada numa mísera fazenda com cinco irmãos homens, eu sabia que se esperava que me casasse aos 16 anos e trabalhasse num pedaço de terra igualmente pobre, com minha prole de filhos subnutridos. Era um caminho que eu teria seguido sem questionamento, não fosse por minha mãe."

17) Em sua opinião, qual o grande ensinamento de “A Bela Adormecida”?

As pessoas que você ama podem mudar sua vida. Não precisa ser um amor romântico: Um amigo, uma irmã ou um primo pode ser a pessoa que te ajude a sair de uma situação difícil ou te inspire a fazer coisas que você não faria se não fosse por eles.

18) Nós, brasileiros, amamos te conhecer. Quais os planos futuros de Elizabeth Blackwell? Podemos ter esperanças de mais uma releitura?

Obrigada! Eu terminei outro livro, mas não é mais um conto de fadas. Eu queria tentar algo diferente. Ele se passa na Chicago dos anos 1920, mas é também a história de uma família misteriosa e seus segredos. Eu ainda não tenho uma data para publicação, mas eu coloco todas as informações importantes sobre os livros AQUI.

Eu ficaria bastante empolgada de ter outro livro disponível no Brasil!

Finalmente, muito obrigada Mirelle e Laís, por suas tão gentis palavras. Suas perguntas foram ótimas....

***

Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais dessa autora incrível. E não deixem de ler Enquanto Bela Dormia, porque é um livro bom demais.

Beijos e até a próxima entrevista, Laís.

5 comentários

  1. Laís,achei bem legal a forma que ela começou até iniciar a escrever o livro à noite.Nossa,levou 4 anos para publicá-lo.Mas como diz o ditado se perseveramos,conseguimos,então feliz 2014!Amo também histórias dramáticas.Fiquei curiosa para saber o que faz Rosa dormir.Gostei muito de saber que o amor focado na obra é o familiar e o de amizade e não necessariamente o romântico.Ansiosa pelo lançamento do próximo livro da autora,mesmo não se tratando de outro conto de fada.Beijos!!!

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  2. Oi Laís!

    OMG! Amei a resenha! Ela é tão simpática neh? É dificl encontrar autores receptivos assim! Amei conhecer um pouco mais dessa autora que ganhou meu coração para sempre!
    E gente, quero ler o novo livro! Arqueirooooo!!!! Pega ele pra gente! rsrsrsrsrsrs

    Parabéns pela entrevista! Adorei!

    Bjo bjo^^

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  3. eu adoro ler entrevista com autores!
    e acompanhar a história por trás da história é sempre muito inspirador! dois anos para escrever o livro? mais dois anos para publicar? ainda bem que ela não desistiu. essa ficou uma entrevista ótima para o mês das mulheres!! lembrar das lutas das mulheres anteriores e saber que a gente tá bem mais ainda precisa melhorar
    p.s. será q o novo vai sair no Brasil? isso é sempre um drama a parte

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  4. Nossa, que entrevista bacana! Gostei muito das perguntas e respostas, todas muito bem elaboradas. Ainda não li o livro mas quero fazer isso o quanto antes, estou simplesmente louco haha Parabéns à Elizabeth, parece ser muito guerreira e ter pesquisado bastante para conseguir publicar uma história tão boa. Abraços!

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  5. OLá!!
    Gostei muito de conhecer a autora Elizabth e saber como ela começou a desenvolver seu belo trabalho...Estou muito ansiosa para começar a leitura de Enquanto Bela dormia e saber q logo será lançado seu novo livro me deixou ainda mais ansiosa.Bj.

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