Resenha - Mr. Mercedes

Sinopse: "Ainda é madrugada e, em uma falida cidade do Meio-Oeste, centenas de pessoas fazem fila em uma feira de empregos, desesperadas para conseguir trabalho. De repente, um único carro surge, avançando para a multidão. O Mercedes atropela vários inocentes, antes de recuar e fazer outra investida. Oito pessoas são mortas e várias ficam feridas. O assassino escapa. Meses depois, o detetive Bill Hodges ainda é atormentado pelo fracasso na resolução do caso, e passa os dias em frente à TV, contemplando a ideia de se matar. Ao receber uma carta de alguém que se autodenomina o Assassino do Mercedes, Hodges desperta da aposentadoria deprimida, decidido a encontrar o culpado. Mr. Mercedes narra uma guerra entre o bem e o mal, e o mergulho de Stephen King na mente obsessiva e psicótica desse assassino é tão arrepiante quanto inesquecível."
Leio Stephen King desde que me conheço por gente e considero o escritor como uma das grandes personalidades do terror e do suspense na literatura. King já ganhou inúmeros prêmios, tem mais de 50 best-sellers publicados, suas obras são lidas no mundo inteiro e muitas delas foram adaptadas para o cinema e para a televisão. Se alguém pedisse para que eu falasse sobre um escritor que tenha marcado a minha vida de leitora, com certeza citaria Stephen King. No entanto, hoje eu não vim falar (somente) do autor, mas de uma obra que li recentemente e que foi uma das minhas melhores leituras de 2016: Mr. Mercedes.

Mr. Mercedes é um romance policial que foi publicado em junho de 2014 nos Estados Unidos e lançado no Brasil neste ano, pela Suma de Letras. O volume faz parte de uma trilogia protagonizada por Bill Hodges, um policial aposentado que se vê obrigado a voltar à ativa.

A história de Mr. Mercedes inicia na madrugada de 9 de abril de 2009, quando um carro Mercedes vai em direção a uma fila de pessoas que aguardavam o horário de abertura de uma agência de empregos. Eles, que enfrentaram a noite gelada para serem os primeiros a serem atendidos no local e terem uma chance no mercado de trabalho, são atropelados propositalmente por um desgraçado de um motorista doido que, sabe-se lá por qual motivo, resolve cometer esta atrocidade. A tragédia resulta em oito mortos, dentre eles um bebê de colo, e muitos feridos. Alguns dos sobreviventes ficam incapacitados de caminhar e com partes do corpo mutiladas.

Após essa primeira cena trágica, o leitor conhece o detetive aposentado Kermit William Hodges. Aproximadamente um ano após o crime, Hodges está em sua casa, assistindo a programas de televisão, contemplando o revólver que era de seu pai e pensando se teria coragem de cometer suicídio. O ex-detetive, que se aposentou com louvor por ter resolvido vários casos, agora se sente solitário, fora de forma e imprestável. Até que ele recebe uma carta sob o vão de sua porta cujo remetente é o misterioso assassino apelidado de Senhor Mercedes.  

Bill Hodges desconfia da autoria da carta, mas conforme lê, percebe que alguns detalhes somente o assassino poderia saber. O aposentado pensa, então, em entregar a carta para a polícia, porém rejeita a ideia. A carta veio para trazer um novo significado a sua vida: Hodges decide investigar este caso que não conseguira solucionar durante sua trajetória profissional.

Ao mesmo tempo em que acompanhamos Bill Hodges e outros personagens que o ajudam na investigação, ao leitor é apresentado Brady Hartsfield, o assassino. Contrariando muitas histórias policiais em que o foco é a descoberta do crime e a revelação do criminoso ao final da trama, Stephen King torna público a identidade do Senhor Mercedes logo no início do texto. O narrador em terceira pessoa é onisciente e a cada capítulo o foco narrativo alterna-se entre Hodges e Brady. Considero esta uma belíssima demonstração da habilidade de Stephen King. O exemplar, que tem tudo para ser clichê, torna-se realmente espetacular. O desenvolvimento psicológico dos personagens é uma das grandes marcas do autor, prendendo o leitor e não deixando a gente largar o livro, até percebermos que chegamos na última página.

King é mais conhecido por escrever terror e suspense. Muitas de suas histórias têm a presença do sobrenatural, deixando, várias vezes, o leitor bastante assustado. Mr. Mercedes, entretanto, trata-se de um enredo sobre um serial killer. Pode-se dizer que é uma novidade na trajetória literária do escritor e, na minha opinião, ele escreveu com maestria. King cria um narrador que penetra na mente do assassino e isso é bastante perturbador. Brady é contraditório, oscila entre o bom senso e a loucura; é inteligente e infantil em alguns aspectos, possui uma relação estranha com sua mãe alcoólatra e repulsiva!

"Ele não está preocupado com Deus nem em passar a eternidade sendo assado lentamente em um espeto pelos crimes que cometeu. Não existe céu nem inferno. Qualquer pessoa com um pouco de cérebro sabe que essas coisas são meras invenções. O quanto um ser supremo teria que ser cruel para fazer um mundo fodido como este?"

Um elemento que me chamou muito a atenção em Mr. Mercedes é a exposição da vida digital. Hodges utiliza novos meios de investigação. A vida virtual está presente no contexto através de Jerome, um adolescente de 17 anos que entende de novidades tecnológicas e é ajudante de Hodges no que se refere às questões de internet e tecnologia. O velho policial sequer sabe ligar o computador e precisa de Jerome para se comunicar com o Senhor Mercedes, que possui bastante conhecimento na área e, a propósito, pede para que Hodges fale com ele em um site de bate-papo. Achei muito interessante a “caçada” usar a internet como uma das formas de localizar o assassino. Nunca tinha lido romance policial cujo personagem investigasse por meio de redes sociais.

O livro é dividido em partes e os capítulos são curtos, dando um bom ritmo à leitura. Como todo bom thriller, algumas cenas são escritas com a dose necessária de surpresa para que o leitor fique ansioso pelo desenlace. E este é surpreendente!

Eu poderia fazer uma lista imensa, elencando os motivos pelos quais acredito que vocês devam ler o livro e só posso dizer que é impossível abandonar a leitura, já que a narrativa é muito envolvente. King não decepciona, aposta em um gênero que normalmente não escreve e conquista o leitor. E ainda deixa um presente para os fãs, que encontram em alguns momentos, inferências de livros do próprio escritor.

"— Apavorante. Você já viu aquele filme sobre o palhaço no esgoto?
Hodges balançou a cabeça. Mais tarde, semanas antes da aposentadoria, ele comprou o DVD do filme, e Pete estava certo. O rosto da máscara era bem parecido com o de Pennywise, o palhaço do filme."

Estou muito ansiosa para ler os outros volumes que compõem a trilogia. E vocês?

Mr. Mercedes - Stephen King
Livro 01
Trilogia Bill Hodges
Editora Suma de Letras
576 páginas
Comprar: Amazon / Saraiva 
Nota 4

4 comentários

  1. Por incrível que pareça nunca li um livro do King.
    Não curto muito o gênero literário em questão.
    Prefiro sempre os bons e velhos romances rs
    Mas estou vendo nos último anos, os comentários positivos de suas obras e o quanto a escrita dele é boa.
    Confesso que tenho interesse em conhecer.
    E fiquei bem curiosa em relação a Mr. Mercedes, quem sabe não começo com essa trilogia?
    Adorei a dica e a resenha.
    Beijos,
    Caroline Garcia

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  2. Oi, Ana!
    Que resenha maravilhosa, hem? Parabéns!
    Também sou fã do escritor, apesar de ainda ter lido muito pouco dele. Quero muito essa trilogia! A capa desse livro está linda e a premissa, já deixa aquele gostinho do que nos espera. Lendo sua resenha, mais ansiosa fiquei! Espero poder conferir em breve.
    Obrigada. Beijos.

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  3. Oi Ana!

    Ru li este livro e nossa! Vc tem toda razão, é maravilhoso! Curiosamente, estou lendo agora Achados e Perdidos, continuação deste volume e estou amando tbm!

    Parabéns pela resenha!
    Bjo bjo^^

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  4. Sou fã do King, fiquei muito curiosa pra ler esse livro. Gostei de sua resenha, ela desperta mais ainda a vontade de ler o livro!

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