Sinopse: "No futuro, o mundo é árido e hostil, dividido entre os que moram dentro
do conforto da muralha, o chamado Enclave, e os que duramente tentam
sobreviver no miserável lado de fora, como a jovem Gaia Stone. Aos 16
anos, assim como sua mãe, segue o ofício de parteira, e cumpre sem
questionar o dever de entregar uma cota dos recém-nascidos para o
Enclave. Porém, sem que ela entenda o porquê, seus pais são presos pelas
mesmas pessoas a quem eles sempre serviram e desaparecem. Os esforços
de Gaia para resgatá-los a levam para dentro da muralha, e ela acaba
descobrindo a existência de um código, cujo significado pode colocar
muita coisa em risco, mas que também ameaça sua vida e a segurança de
sua família."
Cerca de 400 anos no futuro, em uma realidade distópica onde
a terra é árida e infértil e a população dividida, Gaia mora do lado de fora
dos muros do Enclave, local denominado Wharfton que, ao contrário dos
habitantes do Enclave, vive na total pobreza de recursos.
Aos 16 anos ela está pronta para assumir a profissão da mãe,
que é parteira do Setor Oeste 3 de Wharfton. Mas, a tarefa não consiste apenas
em trazer lindos bebês ao mundo. Como Gaia foi ensinada desde que começou a
acompanhar a mãe ao trabalho, os três primeiros bebês de cada mês devem ser
entregues ao Enclave pelo Portão Sul, o mais próximo do Setor onde elas habitam.
Essas crianças jamais são vistas novamente, sendo adotadas por famílias que
residem no interior dos muros e passando a fazer parte daquela realidade.
Entretanto, logo na primeira noite de Gaia como parteira, sua vida toma um rumo inesperado. Ao chegar em casa, é abordada pela velha Meg, auxiliar de sua mãe que estava atendendo a um outro parto. Segundo Meg, os pais de Gaia haviam sido levados pela guarda para um interrogatório no Enclave. Ela sugere que Gaia fuja e lhe entrega um pequeno embrulho que teria sido enviado por sua mãe antes de ser levada. Dentro dele, há uma fita coberta de um código que Gaia não consegue entender.
A jovem se recusa a fugir de Wharfton, afinal, o que há além
dos limites da cidade? Apenas deserto e uma região imaginária da qual as
crianças ouviam falar nos contos de fada. Não haveria sobrevivência longe dos
limites da vila. Para piorar a situação, Gaia encontra um soldado na sua sala
que lhe faz perguntas sobre os pais e uma possível lista pertencente à mãe da
garota. Sem saber do que se trata, Gaia é honesta e acaba sendo liberada pelo
incrivelmente gentil soldado, que vai embora.
As semanas passam e Gaia descobre através de um vizinho de
setor que possui negócios no interior do Enclave que seus pais teriam sido
sentenciados à morte. Agora, Gaia tem apenas até o fim do dia para decidir se
arrisca tudo para entrar escondida no Enclave, ou se segue o conselho dos amigos e
continua em frente, na ignorância sobre o que realmente aconteceu a eles. Porém,
viver sozinha com apenas 16 anos e com tantas incertezas não parece ser
possível. Assim, Gaia parte em uma arriscada jornada para salvar os pais e
descobrir o segredo guardado por eles ao longo dos anos, que pode alterar a
realidade de todos à sua volta.
***
Marcados é o primeiro livro da trilogia de mesmo nome,
escrita por Caragh M. O’Brien. Na realidade criada pela autora, o sol é um
inimigo constante que castiga a população, e em um primeiro momento, não parece
haver muita vida além dos limites do Enclave e de Wharfton.
O fato de existir um baixo número de pessoas vivendo no
interior do Enclave resultou, com o tempo, em problemas genéticos devido aos casamentos
consanguíneos. Em virtude disso, crianças do Enclave acabaram morrendo cedo e
mulheres passaram a nascer inférteis. Para resolver esta questão, o Enclave
decidiu trazer crianças de fora dos muros para que estas crescessem e se casassem
com cidadãos de lá no intuito de equilibrar a balança genética e sanar os
problemas que afligiam a população da cidade.
Porém, deste fato, surgiu o meu primeiro questionamento a respeito do
livro: levando em consideração que Wharfton não é tão maior que o Enclave, por que
as deformações genéticas ocorreram apenas do lado de dentro dos muros? E, como manter o controle sobre os casamentos
entre familiares quando as crianças não possuem nenhum tipo de registro ao
serem levadas ao Enclave? Nada impede que dois irmãos adotados por famílias distintas
em anos diferentes se enlacem lá dentro, certo? Entretanto, sei que devemos lembrar que
esta é uma história de ficção e, portanto, não podemos nos apegar demais aos
detalhes. Todavia, achei certas situações difíceis de engolir.
A premissa do livro me parecia interessante e, apesar de não
ter gostado da narrativa da autora desde o início, eu fiz um esforço para ir ignorando uma coisa aqui e outra ali até que
a história engrenasse. Mas então desisti. Eu precisaria ignorar a história
inteira para gostar de alguma coisa.
Gaia é a heroína mais chata e antipática com quem já me
deparei na literatura, e olha que já li Crepúsculo! Quanto aos outros
personagens, eles são simplesmente sem graça e mal desenvolvidos, como
fantasmas em quem ela esbarra no texto e que estão ali apenas para ajudá-la a
chegar ao seu objetivo. A trama não envolve o leitor e passei o livro inteiro
tentando entender onde a autora queria chegar até perceber que ela estava
provavelmente tão perdida quanto eu.
Outra coisa que me irritou profundamente na história foi o
fato de personagens secundários, desconhecidos para a Gaia, terem arriscado as
suas vidas para protegê-la. E levando em consideração que a menina é
completamente rude e egoísta com todos, este é um fato que simplesmente não fez o menor
sentido para mim.
Também não entendi a necessidade da existência da muralha.
Já que o Enclave precisa desesperadamente corrigir o problema genético causado
devido aos casamentos consanguíneos, por que não simplesmente abrir os portões
e permitir a livre circulação das pessoas? E por que raios os pais de Gaia e até mesmo a
menina se esforçaram tanto para esconder do Enclave a tal lista codificada na
fita quando o objetivo do mesmo era justamente fazer aquilo pelo qual os pais
de Gaia começaram a escrever a lista, para começo de conversa? Sem contar que,
apesar do clima praticamente medieval da história, a tecnologia genética do
Enclave é muito avançada para a época e um simples teste de DNA resolveria tudo.
Resumindo, não consegui entender as motivações da grande
maioria dos personagens do livro, que
são superficiais e me deixaram sem várias explicações. A história carece de aprofundamento, apelo emocional e norte,
e o romance (sim, a autora tentou introduzir um romance) faz menos sentido ainda,
já que Gaia vive reclamando de Leon.
Infelizmente, Marcados acabou sendo uma leitura bastante medíocre
devido à escrita desfocada e desorganizada da autora. O ritmo é estranho e ela
não soube introduzir os personagens secundários, tornando a fraca protagonista
basicamente a única a sustentar o enredo inteiro. Como eu disse, a premissa me
pareceu bastante promissora, mas o livro acabou sendo decepcionante e senti
pena das árvores cortadas para propagar uma história tão sem nexo.
O livro é narrado em terceira pessoa, a capa ficou muito
bonita e a edição é simples. Uma das poucas coisas que achei legal é o fato de
a obra apresentar um mapa do Enclave e de Wharfton, contendo todos os setores e
pontos de referência citados no texto, o que ajuda bastante a visualizar os
caminhos por onde a protagonista passa.
Apesar de ser fã de distopias, esta é a primeira trilogia que abandono no primeiro livro por não considerar o futuro da história muito promissor.
Marcados - Caragh M. O'Brien
Livro 01
Editora Gutenberg
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